GUSTAVO PATU - DE BRASÍLIA
Não é simples coincidência que o Brasil contabilize hoje deficit recordes tanto no turismo internacional quanto no comércio com o resto do mundo.
Nos dois casos, trata-se do descompasso entre o ritmo de expansão dos gastos dos brasileiros -pessoas físicas, empresas e governos- e o da capacidade do país de prover bens e serviços.
Quando se consome além do que permite a renda local, a busca por artigos estrangeiros tão diferentes quanto petróleo, quinquilharias chinesas e pacotes turísticos supera a procura dos estrangeiros pelos artigos nacionais.
Esse desequilíbrio é uma constante na história do Brasil. Dos últimos 50 anos, só 11 foram de superavit nas transações comerciais e de serviços com o resto do mundo. Ser deficitário não é necessariamente ruim: com frequência, as contas no vermelho estão relacionadas a maior bem-estar da população e equipamentos mais modernos para a indústria.
Há perigo, porém, quando o deficit cresce aceleradamente e há dúvidas sobre quando e como as contas se reequilibrarão. É o que volta a acontecer, embora o cenário ainda não seja tão grave quando o dos anos 70 e 90.
Há cinco anos, o buraco anual nas contas brasileiras não chegava aos US$ 30 bilhões; hoje, caminha para US$ 70 bilhões. Só do primeiro trimestre de 2012 para o de 2013, o número mais que dobrou, de US$ 12 bilhões para quase US$ 25 bilhões.
A crise nos países desenvolvidos encerrou uma era de prosperidade global, em que dispararam os preços de produtos primários como soja e minério de ferro, favorecendo as exportações do Brasil.
A expansão da produção foi freada, mas o consumo do país permaneceu em alta, graças aos baixos índices de desemprego, aos pacotes oficiais de estímulo ao crédito e à alta dos gastos públicos.
Deficit nas transações correntes -comércio, viagens, aluguéis, remessas de lucros, pagamento de juros e outras- têm de ser cobertos com dólares oriundos de empréstimos, aplicações financeiras ou investimentos de empresas multinacionais.
Até 2012, os investimentos, considerados a fonte mais estável de financiamento, cobriam integralmente o deficit. Neste ano, não mais.
A dívida externa, que passou a década passada em torno de US$ 200 bilhões, já ultrapassou a casa dos US$ 300 bilhões, puxada pelo endividamento privado.
Não há ameaças imediatas porque o BC acumulou recorde de reservas em dólares e os juros mundiais estão excepcionalmente baixos. Os riscos estão à frente, quando os países desenvolvidos voltarem a subir os juros.
Fonte: Folha de São Paulo - 05/maio/2013
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