28/06/2013

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Qual baderna?


Qual baderna?
Contardo Calligaris - Folha de São Paulo 27/junho/2013

A sensação de injustiça é exacerbada pela constatação de que muitos representantes procuram ser eleitos para ganhar acesso à dita cidadania VIP. Por isso, hoje, circulam aos borbotões, na internet, propostas de reforma política em que, por exemplo: 
1) os membros do Legislativo e do Executivo seriam obrigados a recorrer, para eles mesmos e para seus filhos, aos serviços da educação e da saúde públicas, 
2) os congressistas não teriam nenhum regime privilegiado de aposentadoria, 
3) os congressistas não poderiam votar o aumento de seus próprios salários etc.
Para piorar, os representantes parecem se preocupar pouco com os compromissos de seu mandato e muito com sua própria permanência nos privilégios do poder. Por isso, por exemplo, eles compõem alianças que desrespeitam e humilham seus próprios eleitores.
Nesse contexto espantoso, é patética a indignação com os "baderneiros" e mesmo com a margem de delinquentes comuns que se agregaram às manifestações.
O poder, quando não é efeito de graça divina, vem dos próprios cidadãos e é condicional: só posso reconhecer e respeitar a autoridade que me reconhece e me respeita. Uma autoridade que me desrespeita merece uma violência equivalente à que ela exerce contra mim.
Além disso, é bom não perder o senso das proporções. "Olhe, olhe!", grita um repórter, enquanto a tela mostra alguém que foge de uma loja saqueada levando algo no ombro. Tudo bem, estou olhando e não estou gostando, mas minha indignação é mais antiga e por saques muito maiores.

Outro repórter pensa nos coitados que perderão o avião, em Cumbica, por causa dos manifestantes que bloqueiam o acesso ao aeroporto. Mas o verdadeiro desrespeito é o de nunca ter construído uma linha de trem entre São Paulo e o maior aeroporto do país.
O ministro Antonio Patriota se declarou indignado com o vandalismo contra o Palácio do Itamaraty. Com um pouco de humor negro, eu poderia suspeitar que os apedrejadores talvez tenham precisado um dia dos serviços de um consulado no exterior. Mas, deixemos. Apenas pergunto: se esses forem vândalos, então o que são, por exemplo, os latifundiários desmatadores da Amazônia?
 Enfim, à presidenta Dilma gostaria de dizer: não acredito que os "baderneiros" das últimas semanas tenham envergonhado o Brasil --nem mesmo quando alguns depredaram o patrimônio público. Presidenta, você sabe isto mais e melhor do que muitos de nós: o que envergonha o Brasil é uma outra baderna, bem mais violenta, que dura há 500 anos e que gostaríamos que parasse.

Gárgula

Catedral de Colônia - Alemanha

25/06/2013

Gárgula

Plummer Building - Rochester, Minnesota

Saudade

Ai, ai
Vai ver é só você
Ai, ai
Vai ver é só você querer
Distante, imaginar
Caberia a quem dizer:
"Amor, eu vivo tão sozinho de saudade"
                                                                  Marcelo Camelo


23/06/2013

Mozart


Piano Concerto no.23, Adagio

Fine art nude

Edvard Munch

FHC e a formação do Brasil

Desde o governo Lula, a visão do futuro está errada. Não se percebeu que a crise terminaria, como deve acontecer. Acreditava-se que os EUA entrariam em decadência e não vão. O Brasil fez o caminho contrário da China, que se concentrou na exportação para acumular capital e investir, enquanto aqui se montou a base a partir do consumo, uma solução trôpega. O consumo cresceu, mas quem consome não está feliz e protesta na rua. Quer outras coisas, sem saber exatamente o quê. Basta ver os cartazes de protesto: tarifa, PEC, saúde, corrupção. Por trás disso, surge uma mensagem poderosa: quero viver melhor e isso não significa apenas consumir. 
O processo lulista deu o contrário. Saturou rapidamente. 

19/06/2013

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Princeton University - New Jersey, EUA

Leminski

Dor elegante

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante


Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha


Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

Absolute beauty


Enfim o bom senso

Arquipélago de Alcatrazes

Estive lá no começo da década de 90, desembarcado por 2 dias, dando apoio a dois grupos de pesquisadores (Instituto Butantan e Bio/USP), paraíso a 45 km da costa de São Sebastião (SP), finalmente a luta de um grupo de incansáveis batalhadores pela vida do arquipélago foi recompensada. Parabéns à Marinha brasileira pela atitude sensata (antes tarde do que nunca).




Leia a notícia completa aqui.

16/06/2013

Heart beat


Pablo Picasso

Dos desnudos y un gato, 1903

Mário Quintana


Essa lembrança que nos vem às vezes...
folha súbita que tomba

abrindo na memória a flor silenciosa
de mil e uma pétalas concêntricas...
Essa lembrança...mas de onde? ...de quem?
Essa lembrança talvez nem seja nossa,
mas de alguém que, pensando em nós, só possa
mandar um eco do seu pensamento
nessa mensagem pelos céus perdida...
Ai! Tão perdida
que nem se possa saber mais de quem!

Van Morrison

IN ANOTHER WORLD, DARLING
IN ANOTHER WORLD
IN ANOTHER TIME
GOT A HOME ON HIGH
AIN'T NOTHING BUT A STRANGER IN THIS WORLD
I'M NOTHING BUT A STRANGER IN THIS WORLD
I GOT A HOME ON HIGH
IN ANOTHER LAND SO FAR AWAY, SO FAR AWAY

Fine art nude

Adrian Lockhart

14/06/2013

Milhares já escolheram sapatos que não vão apertar

O dia 13 de junho de 2013 está na história do Brasil – e certamente, na história da mídia brasileira. Algumas cenas marcam essa data.
- Datena, apresentador da Band, abre o seu programa pregando a ordem pública contra a baderna. Faz até uma enquete: “você é a favor de protesto com baderna?”. Seu programa começa no final da tarde; quando ele abre, 40 pessoas já forma detidas, entre elas o fotógrafo do Terra Fernando Borges e o repórter da Carta Capital Piero Locatelli, por portar vinagre (instrumento contra o gás lacrimogêneo). O resultado da enquete é surpreendente: a maior parte dos espectadores é A FAVOR do protesto com baderna. Cenas de helicóptero permeiam o programa; milhares de manifestantes mobilizados, nada de violência. PM acompanhando. A enquete sai do ar. Datena muda de opinião e encerra dizendo: “se eu sou o governador, baixo a passagem hoje mesmo”.
- Globo News faz gigante cobertura do protesto. Três repórteres escalados, mais helicópteros filmando. Uma das repórteres (não identifiquei seu nome) presencia, de um lugar seguro, o início da ação violenta da PM. Para tentar bloquear uma rua, PMs fazem formação de defesa e atiram bombas de gás a esmo, atingindo inclusive a imprensa. A repórter descreve a cena da seguinte forma: “Polícia reagiu à violência dos manifestantes. E é bom lembrar que perto dessa área, existem hospitais, trabalhadores voltando para a casa”. Entra a outra repórter, que está muito perto do local: Rosana Cerqueira, acredito. Quando a linha telefônica abre, sai a sua voz: “Vou ter que desligar, estou correndo da polícia”. Ela não desligou.
- Em editoriais, Folha de S. Paulo e Estadão afinam o discurso. A Folha afirma que é preciso “Retomar a Paulista“, cobra ação enérgica da PM e diz que para os vândalos, é preciso dar a lei. O Estadão vai além: afirma que o governador teve uma postura moderada e precisa ser enérgico ao restabelecer a ordem. Como não brigam com a notícia, os jornalistas desses veículos vão ao protesto. Por volta das 20h30, surge no Estadão a foto de uma menina da Folha com o olho inchado: ela levou uma bala de borracha no olho. Da PM. Saldo divulgado pela Folha: dois jornalistas levaram balas de borracha, sete saíram feridos.
O jornalista vai ao protesto para trabalhar; o policial militar, também. Nenhum deles mobiliza o protesto. Ambos portam armas de grosso calibre; as do jornalista, a princípio, não-letais. Quando os jornalistas, que estão trabalhando como os policiais, são agredidos, isso vira notícia. O manifestante pode ser mal-interpretado, pode ser tratado como vagabundo, canalha, covarde, filho da puta. O jornalista, não; ele sempre está ali para trabalhar.
Isso não quer dizer que o jornalista é melhor que ninguém. Se o ativista pacífico, que leva flores, apanha, isso também é notícia, e importante. A diferença é que o ativista que leva flores pode ser confundido com o ativista que resolve quebrar vidros e apedrejar lojas, por aqueles que desconhecem a genealogia do protesto. O jornalista, não: ele certamente não estava ali para quebrar nada.
O que me motiva a escrever esse texto é, especialmente, o sangue nas veias de quem conhece pessoas como Marina Novaes, Vágner Magalhães e Fernando Borges (todos do Terra, todos agredidos) e sabe que é muito triste o fato dessas pessoas voltarem para casa com marcas de cassetete. Eu já apanhei da polícia. Eu já fui ameaçado de prisão. Já fui colocado contra a parede. Eu já vi pessoas inocentes levarem balas de borracha. Foi revoltante – seria em dobro se eu estivesse a trabalho.
É impossível, para a mídia grande e para a mídia pequena, cobrir todos os focos de repressão e violência policial. O que aconteceu em São Paulo ontem, em outros dias da semana, em Porto Alegre no mês passado, não é nada perto do que muitos jovens da periferia sofrem diariamente. Alguns vão inclusive presos por coisas fúteis – porte de maconha para consumo próprio, p.ex – e outros são totalmente inocentes, e passam dias, meses, submetidos às sevícias de depósitos humanos como o Presídio Central. As agruras dessas pessoas raramente são retratadas. Quando são, o esquecimento vem rápido.
A dor da repressão policial chegou, ontem, ao centro do Brasil: a Avenida Paulista. A indignação das vítimas chegou no mesmo lugar, ao mesmo tempo, e veio em forma de revolta.
Sempre acreditei que uma grande mobilização social no Brasil demoraria bastante para ocorrer. Ainda mais nos tempos atuais: a moeda é valorizada, o desemprego bate em 4%, o consumo é alto, a economia, mesmo que esteja mal, é a melhor que temos em muitos anos. Só que nada disso veio com uma melhora significativa no bem-estar social.
O aumento da passagem é um pretexto para o padrão do Brasil como país emergente: o serviço encarece, mas não melhora. O ônibus ficou mais caro, mas não justificou esse aumento – continua lotando, continua matando os passageiros (como no Rio), continua atrasando. Como os ônibus, os imóveis também ficaram mais caros e não melhoraram. A saúde ficou mais cara e não melhorou. A educação ficou mais cara e não melhorou. Os preços dos ingressos de estádios de futebol encareceram e não melhoraram. A telefonia encareceu e até melhorou, mas funciona muito abaixo do que deveria.
Diante de tudo isso, a chegada de uma Copa das Confederações amplifica a indignação. Os estádios são caríssimos, pagos pelo Estado, e os hospitais, pagos pelo Estado, matam gente por falta de atendimento. O torcedor é convidado a fazer festa, mas não pode beber, gritar nem levar instrumentos musicais. A sociedade é democrática mas o governo impõe padrões de comportamento, padrões Fifa, que são alienígenas à nossa cultura. E isso em um evento que é feito para celebrar o Brasil. Para mostrar notoriedade. Para mostrar quão interessante é o nosso país para o mundo.
A indignação está bem longe de ser sobre o aumento da passagem de ônibus em São Paulo. Em Porto Alegre a passagem não aumentou e milhares foram à rua na mesma quinta-feira. Em Fortaleza, 6 mil saíram para criticar o governador. No Rio de Janeiro, milhares foram protestar contra os ônibus – lá, teve gente MORTA por ônibus este ano e não houve repressão policial. Há também relatos de atos em Goiânia e Maceió, só nessa quinta-feira.
Os manifestantes do Gezi Park, em Istambul, começaram seu ato indignados pelo fim da área verde para a construção de um shopping. Terminaram protestando contra tudo.
O que essa juventude toda que foi à rua realmente quer é mostrar que o espaço público é como um time de futebol: grande por sua gente. Se São Paulo é a locomotiva do Brasil, foi porque as pessoas fizeram assim. Se o Brasil é referência para o mundo, foi porque o povo trabalhador brasileiro, da jornada de 44 horas, do transporte público deficiente, da educação capenga, passa por cima de todas as dificuldades para produzir diariamente.
O resgate do espaço público é o resgate de uma consciência coletiva de que é o povo que faz o país, e não o país que amestra o povo.
Diante dessa visão, fica clara a enorme dificuldade de diálogo com esse povo. E essa dificuldade de diálogo é exatamente o que motiva protestos ainda mais fortes.
O belicismo dos editoriais de Folha e Estadão conversa com o assinante conservador que sustenta sua folha de pagamento, mas não conversa com a reputação atingida por esses veículos na sociedade brasileira. O que conversa com a imagem desses veículos é a repórter, que vai ao local para dar a importância que o protesto merece.
Da mesma forma, a postura legalista de Alckmin, Haddad e José Eduardo Cardozo dialoga com as bases, as militâncias, mas não com os eleitores. Quando Alckmin pede energia para combater o vandalismo e diz que baderneiros devem ser reprimidos, ele claramente não percebe o que está acontecendo na sua cidade desde o início. Quando Haddad não acha relevante voltar para as ruas e conversar com os milhares que querem passe livre, ele minimiza a força das ruas em prol da tênue legitimidade do voto. Quando José Eduardo Cardozo diz que pode mandar a Polícia Federal e a Força Nacional para ajudar na repressão, ele conversa com o Jarbas Passarinho que assinou o AI-5: manda às favas seus escrúpulos de consciência em prol de um discurso oficialesco e que já sai da boca mumificado.
E quando a presidente Dilma Rousseff se manifesta sobre a inflação e não sobre as ruas, ela não conversa com Estela, Luísa, Maria Lúcia, Marina, Patrícia e Wanda, que deixaram a oposição consentida para lutar pela VAR-Palmares na ditadura.
A genialidade histórica desses protestos é que, embora eles tenham sido motivados por pessoas à esquerda do governo, nenhum deles carrega seus vícios. O PT catapultou o Fora Collor em 1992, mas não encheu o saco dos caras pintadas com discursos fechados sobre arrocho salarial. Muitos dos que estavam vestidos de preto em 1992 nem sabiam o que era arrocho salarial – eu era um deles, tinha 7 anos, e aos 28 ainda tenho que procurar no Google. Isso está longe de ser um protesto “não-político”; é apenas um ato que, por seu momento, consegue ultrapassar a politicagem.
Aqueles que vão para a frente do computador defender a repressão e carimbar, com seu carimbo interminável de rótulos, os manifestantes, não merecem preocupação: estão apenas perdendo o trem da história.

Luís Felipe dos Santos (publicado em algum lugar da internet)

Fernandinha Young

Eu gosto de carinho violento. De falar. De estar certa.
De quem entende o que eu digo. De quem escuta o que eu penso.
Da minha prole. Dos meus discos. Dos meus livros.
Dos meus cachorros. Dos Stones. Do Rock Natural.
Da minha solidãozinha. Dos meus blues. Do meu sofá vermelho.
Da minha casa. Do meu umbigo. De unhas cor de carmim.
De homem que sabe ser homem.
De noites em claro e dias em branco. De chuva e de sol.
Eu guardo as minhas rejeições em vidrinhos rotulados com o nome deles.
Eu sou mole demais por dentro pra deixar todo mundo ver.
Eu deixo pra quem eu acho que pode comigo.
Ninguém sabe.
Mas eu tenho coração de moça.

Fernanda Young

?


É isso!

Já tem um bom tempo que as mulheres estão dizendo não para o PhotoShop. Muitos fotógrafos também estão valorizando a beleza natural em ensaios sem nenhum tipo de manipulação.

A falta de sonho

Jovens vão às ruas e nos mostram que desaprendemos a sonhar

12/06/2013

Canto triste


A caminho de casa

A Caminho de Casa (2007) conta a odisséia de um operário que decide levar o corpo de um amigo para o vilarejo onde vive a família do falecido, para que ele seja enterrado em sua terra natal.
Neste road movie, o personagem principal se vê obrigado a embarcar numa viagem pelo interior da China cruzando muitos e muitos quilômetros, com o corpo do amigo a tiracolo. Várias situações vão surgindo diante dele e transformando o seu modo de ver o mundo. O resultado é uma emocionante história sobre amizade, lealdade e tradições.
Apesar da temática se apresentar um tanto dramática e macabra, o que se revela diante dos olhos é um filme cheio de ternura e muito bom humor com situações que envolvem a morte. Não tem desgraça que não vire piada - um jeito de fazer assuntos pesados ficarem mais amenos. A Caminho de Casa privilegia principalmente os detalhes, exatamente porque é isso que sobra no caminho da vida: lembranças, reminiscências e o riso.

O título original da obra, Luo ye gui gen, é um provérbio chinês que significa “a folha que cai, retorna às suas raízes”. E resume o espírito do filme, bem como simboliza o desejo de que a história da nossa vida seja eterna.

Gárgula

Monastério San Juan de los Reyes - Toledo, Espanha

Isabella