DORA KRAMER
- O Estado de S.Paulo - 28/07/2013
O papa
Francisco e os jovens - os hóspedes - saíram-se muito bem. Já o poder público -
o hospedeiro - saiu-se muitíssimo mal da Jornada Mundial da Juventude que,
durante uma semana, expôs em detalhes as deficiências que marcam uma grande
distância entre a fantasia de querer e a capacidade do País de fazer grandes
eventos.
Como ficou
demonstrado, "imagina na Copa" não é apenas um bordão travesso ou
mera abstração do contra. É produto da confrontação diária de que a má
qualidade dos serviços prestados aos brasileiros não corresponde à pretensão de
ofertá-los em larga escala a multidões de visitantes.
Engarrafamento,
falha de planejamento, falta de transporte, filas imensas nos pontos de ônibus
sempre insuficientes, caos nas estações do metrô, nada a que os locais não
estejam acostumados.
Da mesma
forma estamos familiarizados com a desculpa de que "nessa época do ano
choveu além do previsto", apresentada pela prefeitura do Rio ante a
impossibilidade de se realizar a vigília de oração e a missa de despedida do papa
no lodaçal em que se transformou o campo preparado (?) em Guaratiba, na zona
oeste da cidade.
Os
moradores dessa e de outras regiões - não só do Rio, aqui uma espécie de
maquete dos enguiços existentes Brasil afora - estão habituados a sofrer os
efeitos das chuvas tidas por nossas autoridades como ocorrências imprevisíveis.
As pessoas morrem, perdem suas casas, ficam desamparadas e é sempre a mesma
coisa: culpa da abundância inesperada de São Pedro.
Os
transtornos da Jornada funcionaram como um resumo de repercussão amplificada do
grito dos cidadãos que foram às ruas. Também daqueles que, nas pesquisas,
registram concordância com as manifestações deflagradas pela saudável ousadia
da juventude imune aos efeitos da anestesia de um falso Brasil reinventado na
imaginação (para não dizer manipulação) do ex-presidente Luiz Inácio da Silva.
No embalo
dessa fabulação, deixou-se de lado o ensinamento do velho dito: "Quem não
tem competência não se estabelece". Várias das reclamações que se viram
nas placas de junho estavam retratadas nos desacertos da Jornada de julho, em
logística e duração incomparável com a Copa do Mundo e a Olimpíada.
O enredo
criado por Lula quando dos espetáculos promovidos para celebrar a escolha do
Brasil como sede dos dois certames não combina com os fatos. Não resistiu ao
primeiro teste da realidade de falta de estrutura, disciplina, seriedade,
realismo e responsabilidade para fazer frente ao tamanho do compromisso
assumido.
O ensaio
na primeira viagem internacional de Francisco cobre de descrédito o País, que
saiu da Jornada menor do que entrou. O papa, generosamente bem humorado, pediu
desculpas ao prefeito pela "bagunça" que estava fazendo na cidade,
quando eram os anfitriões os responsáveis pela série de confusões.
No início,
temia-se que a repetição dos protestos e atos de vandalismo tumultuasse o
ambiente. No fim, o que tumultuou foi justamente a inépcia do poder público,
alvo das manifestações cuja motivação ficou patente. Ao mesmo tempo,
comprovou-se a razão pela qual as autoridades não souberam dar aos
manifestantes uma resposta à altura.
A despeito
da improvisação, a festa que hoje se encerra foi bonita. Pelo conteúdo de
espiritualidade que estimula positivamente e cria uma atmosfera de boa vontade,
bem entendido. A mesma condescendência, porém, não haverá quando do campeonato
de futebol e dos Jogos Olímpicos.
Se o mundo
deu agora um mau (e merecido) testemunho a respeito da ineficácia da
organização, não é nem de se imaginar, mas de se constatar previamente, a
dimensão do vexame que se avizinha no horizonte.
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