CELSO MING - O Estado de S.Paulo – 09/07/2013
As manifestações demonstraram que a
agenda deste governo está divorciada da agenda da população.
Pode-se argumentar que o povo nem
sempre sabe o que quer, reivindica por vias transversas a satisfação de suas
necessidades e que, até mesmo nas democracias, cabe aos dirigentes interpretar
seus anseios e tratar de satisfazê-los, no que der, já que a política é a arte
do possível.
No entanto, ao longo deste governo,
em tantas e tantas áreas, não há essa interpretação. A maneira como os atuais
dirigentes orientam as despesas públicas nada tem a ver com as aspirações da
população.
Nos grandes centros urbanos, por
exemplo, o trabalhador leva horas e horas diárias espremido em trens e ônibus
ruins, sujeitos a paralisações e congestionamentos, que pioram todos os dias.
Transporte público é uma indiscutível prioridade nacional.
E quais são as políticas do
governo? É incentivar o crédito e reduzir impostos para compra de automóveis,
que entulham ruas e avenidas das grandes cidades, à proporção de quase mil por
dia só em São Paulo. É subsidiar o consumo de gasolina, um dos fatores que
sangram inexoravelmente o caixa da Petrobrás, cujo resultado é mais
congestionamento de trânsito e mais horas perdidas dentro de um veículo.
Em vez de mais metrô, mais
ferrovias, mais rodovias e mais portos, o governo empurra o projeto do
trem-bala que vai levar mais R$ 35 bilhões.
A população quer melhora dos
serviços públicos. Em vez disso, o governo prefere despejar bilhões de reais no
sustento de 39 ministérios, na construção e na ampliação de estádios de
futebol, estes sim, no padrão Fifa de qualidade. Em vez disso, o governo
prefere injetar R$ 10 bilhões do BNDES, que por sua vez, recebe transfusões
diretas do Tesouro Nacional, para alimentar os projetos delirantes do grupo
Eike Batista, até agora, como a presidente Dilma declarara em 2012, motivo de
orgulho e exemplo a ser seguido pelo Brasil.
A população não pede
necessariamente mais verbas para saúde e educação. Pede que os enormes recursos
injetados nessas áreas sejam gastos com qualidade. Mas isso requer também
qualidade de gerenciamento das despesas públicas, hoje altamente precária.
Como ficou claro nas manifestações,
a população quer mão pesada contra a corrupção, que inferniza a administração
pública e aumenta substancialmente os dispêndios nos investimentos do Estado.
No entanto, a resposta do governo é a pretendida instituição do financiamento
das campanhas eleitorais com recursos públicos. Com que resultado prático? Será
que, além do financiamento privado e suas mazelas, que não terminarão, teremos
o financiamento das campanhas eleitorais com recursos que, em última análise,
serão tirados da educação, da saúde, de outros custeios e de investimentos
públicos?
Antes de chegar ao governo federal,
o PT proclamava a excelência do orçamento participativo, que determinava
democraticamente a prioridade das despesas públicas. Uma vez lá chegando,
desconsiderou as recomendações anteriores. As prioridades orçamentárias
passaram a ser determinadas não mais pelas legítimas demandas do contribuinte,
mas por fatores que reforçam a percepção de que o objetivo é a perpetuação no
poder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Lembre-se que nada do que está nesse blog deve ser levado a sério.