30/06/2013
29/06/2013
28/06/2013
Qual baderna?
Qual baderna?
Contardo Calligaris - Folha de São Paulo 27/junho/2013
A sensação de injustiça é exacerbada
pela constatação de que muitos representantes procuram ser eleitos para ganhar
acesso à dita cidadania VIP. Por isso, hoje, circulam aos borbotões, na
internet, propostas de reforma política em que, por exemplo:
1) os membros do
Legislativo e do Executivo seriam obrigados a recorrer, para eles mesmos e para
seus filhos, aos serviços da educação e da saúde públicas,
2) os congressistas
não teriam nenhum regime privilegiado de aposentadoria,
3) os congressistas não
poderiam votar o aumento de seus próprios salários etc.
Para piorar, os representantes parecem
se preocupar pouco com os compromissos de seu mandato e muito com sua própria
permanência nos privilégios do poder. Por isso, por exemplo, eles compõem
alianças que desrespeitam e humilham seus próprios eleitores.
Nesse contexto espantoso, é patética a
indignação com os "baderneiros" e mesmo com a margem de delinquentes
comuns que se agregaram às manifestações.
O poder, quando não é efeito de graça
divina, vem dos próprios cidadãos e é condicional: só posso reconhecer e
respeitar a autoridade que me reconhece e me respeita. Uma autoridade que me
desrespeita merece uma violência equivalente à que ela exerce contra mim.
Além disso, é bom não perder o senso
das proporções. "Olhe, olhe!", grita um repórter, enquanto a tela
mostra alguém que foge de uma loja saqueada levando algo no ombro. Tudo bem,
estou olhando e não estou gostando, mas minha indignação é mais antiga e por
saques muito maiores.
Outro repórter pensa nos coitados que
perderão o avião, em Cumbica, por causa dos manifestantes que bloqueiam o
acesso ao aeroporto. Mas o verdadeiro desrespeito é o de nunca ter construído
uma linha de trem entre São Paulo e o maior aeroporto do país.
O ministro Antonio Patriota se
declarou indignado com o vandalismo contra o Palácio do Itamaraty. Com um pouco
de humor negro, eu poderia suspeitar que os apedrejadores talvez tenham
precisado um dia dos serviços de um consulado no exterior. Mas, deixemos.
Apenas pergunto: se esses forem vândalos, então o que são, por exemplo, os
latifundiários desmatadores da Amazônia?
27/06/2013
26/06/2013
25/06/2013
24/06/2013
23/06/2013
FHC e a formação do Brasil
Desde o governo Lula, a visão do futuro está errada. Não se percebeu que a crise terminaria, como deve acontecer. Acreditava-se que os EUA entrariam em decadência e não vão. O Brasil fez o caminho contrário da China, que se concentrou na exportação para acumular capital e investir, enquanto aqui se montou a base a partir do consumo, uma solução trôpega. O consumo cresceu, mas quem consome não está feliz e protesta na rua. Quer outras coisas, sem saber exatamente o quê. Basta ver os cartazes de protesto: tarifa, PEC, saúde, corrupção. Por trás disso, surge uma mensagem poderosa: quero viver melhor e isso não significa apenas consumir.
O processo lulista deu o contrário. Saturou rapidamente.
22/06/2013
21/06/2013
20/06/2013
19/06/2013
Leminski
Dor elegante
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra
Enfim o bom senso
Arquipélago de Alcatrazes
Leia a notícia completa aqui.
Estive lá no começo da década de 90, desembarcado por 2 dias, dando apoio a dois grupos de pesquisadores (Instituto Butantan e Bio/USP), paraíso a 45 km da costa de São Sebastião (SP), finalmente a luta de um grupo de incansáveis batalhadores pela vida do arquipélago foi recompensada. Parabéns à Marinha brasileira pela atitude sensata (antes tarde do que nunca).
Leia a notícia completa aqui.
18/06/2013
Mordaça intelectual
Na condição de presidente brasileiro que foi, FHC nos levou à servidão, ao fetiche do papel e do abstrato futuro do mercado mundial de capitais. Cardoso empenhou nossas vidas, nosso trabalho até os dias de hoje.
17/06/2013
Quem?
Quem vai sair do rumo?
Quem vai mudar o prumo?
Quem vai ser o primeiro?
Quem vai calar em vão?
16/06/2013
Mário Quintana
Essa lembrança que nos vem às vezes...
folha súbita que tomba
abrindo na memória a flor silenciosa
de mil e uma pétalas concêntricas...
Essa lembrança...mas de onde? ...de quem?
Essa lembrança talvez nem seja nossa,
mas de alguém que, pensando em nós, só possa
mandar um eco do seu pensamento
nessa mensagem pelos céus perdida...
Ai! Tão perdida
que nem se possa saber mais de quem!
Van Morrison
IN ANOTHER WORLD, DARLING
IN ANOTHER WORLD
IN ANOTHER TIME
GOT A HOME ON HIGH
IN ANOTHER WORLD
IN ANOTHER TIME
GOT A HOME ON HIGH
AIN'T NOTHING BUT A STRANGER IN THIS WORLD
I'M NOTHING BUT A STRANGER IN THIS WORLD
I GOT A HOME ON HIGH
IN ANOTHER LAND SO FAR AWAY, SO FAR AWAY
I'M NOTHING BUT A STRANGER IN THIS WORLD
I GOT A HOME ON HIGH
IN ANOTHER LAND SO FAR AWAY, SO FAR AWAY
15/06/2013
PC Pinheiro
Obra prima imortalizada na voz de Clara Nunes
primeira vez que ouço cantada pelo próprio compositor.
14/06/2013
Milhares já escolheram sapatos que não vão apertar
O dia 13 de junho de 2013 está na
história do Brasil – e certamente, na história da mídia brasileira. Algumas cenas
marcam essa data.
- Datena, apresentador da Band,
abre o seu programa pregando a ordem pública contra a baderna. Faz até uma
enquete: “você é a favor de protesto com baderna?”. Seu programa começa no
final da tarde; quando ele abre, 40 pessoas já forma detidas, entre elas o
fotógrafo do Terra Fernando Borges e o repórter da Carta Capital Piero
Locatelli, por portar vinagre (instrumento contra o gás lacrimogêneo). O
resultado da enquete é surpreendente: a maior parte dos espectadores é A FAVOR
do protesto com baderna. Cenas de helicóptero permeiam o programa; milhares de
manifestantes mobilizados, nada de violência. PM acompanhando. A enquete sai do
ar. Datena muda de opinião e encerra dizendo: “se eu sou o governador, baixo a
passagem hoje mesmo”.
- Globo News faz gigante cobertura
do protesto. Três repórteres escalados, mais helicópteros filmando. Uma das
repórteres (não identifiquei seu nome) presencia, de um lugar seguro, o início
da ação violenta da PM. Para tentar bloquear uma rua, PMs fazem formação de
defesa e atiram bombas de gás a esmo, atingindo inclusive a imprensa. A
repórter descreve a cena da seguinte forma: “Polícia reagiu à violência dos
manifestantes. E é bom lembrar que perto dessa área, existem hospitais,
trabalhadores voltando para a casa”. Entra a outra repórter, que está muito
perto do local: Rosana Cerqueira, acredito. Quando a linha telefônica abre, sai
a sua voz: “Vou ter que desligar, estou correndo da polícia”. Ela não desligou.
- Em editoriais, Folha de S. Paulo
e Estadão afinam o discurso. A Folha afirma que é preciso “Retomar a Paulista“,
cobra ação enérgica da PM e diz que para os vândalos, é preciso dar a lei. O
Estadão vai além: afirma que o governador teve uma postura moderada e precisa
ser enérgico ao restabelecer a ordem. Como não brigam com a notícia, os
jornalistas desses veículos vão ao protesto. Por volta das 20h30, surge no
Estadão a foto de uma menina da Folha com o olho inchado: ela levou uma bala de
borracha no olho. Da PM. Saldo divulgado pela Folha: dois jornalistas levaram
balas de borracha, sete saíram feridos.
O jornalista vai ao protesto para
trabalhar; o policial militar, também. Nenhum deles mobiliza o protesto. Ambos
portam armas de grosso calibre; as do jornalista, a princípio, não-letais.
Quando os jornalistas, que estão trabalhando como os policiais, são agredidos,
isso vira notícia. O manifestante pode ser mal-interpretado, pode ser tratado
como vagabundo, canalha, covarde, filho da puta. O jornalista, não; ele sempre
está ali para trabalhar.
Isso não quer dizer que o
jornalista é melhor que ninguém. Se o ativista pacífico, que leva flores,
apanha, isso também é notícia, e importante. A diferença é que o ativista que
leva flores pode ser confundido com o ativista que resolve quebrar vidros e apedrejar
lojas, por aqueles que desconhecem a genealogia do protesto. O jornalista, não:
ele certamente não estava ali para quebrar nada.
O que me motiva a escrever esse
texto é, especialmente, o sangue nas veias de quem conhece pessoas como Marina
Novaes, Vágner Magalhães e Fernando Borges (todos do Terra, todos agredidos) e
sabe que é muito triste o fato dessas pessoas voltarem para casa com marcas de
cassetete. Eu já apanhei da polícia. Eu já fui ameaçado de prisão. Já fui
colocado contra a parede. Eu já vi pessoas inocentes levarem balas de borracha.
Foi revoltante – seria em dobro se eu estivesse a trabalho.
É impossível, para a mídia grande e
para a mídia pequena, cobrir todos os focos de repressão e violência policial.
O que aconteceu em São Paulo ontem, em outros dias da semana, em Porto Alegre
no mês passado, não é nada perto do que muitos jovens da periferia sofrem
diariamente. Alguns vão inclusive presos por coisas fúteis – porte de maconha
para consumo próprio, p.ex – e outros são totalmente inocentes, e passam dias,
meses, submetidos às sevícias de depósitos humanos como o Presídio Central. As
agruras dessas pessoas raramente são retratadas. Quando são, o esquecimento vem
rápido.
A dor da repressão policial chegou,
ontem, ao centro do Brasil: a Avenida Paulista. A indignação das vítimas chegou
no mesmo lugar, ao mesmo tempo, e veio em forma de revolta.
Sempre acreditei que uma grande
mobilização social no Brasil demoraria bastante para ocorrer. Ainda mais nos
tempos atuais: a moeda é valorizada, o desemprego bate em 4%, o consumo é alto,
a economia, mesmo que esteja mal, é a melhor que temos em muitos anos. Só que
nada disso veio com uma melhora significativa no bem-estar social.
O aumento da passagem é um pretexto
para o padrão do Brasil como país emergente: o serviço encarece, mas não
melhora. O ônibus ficou mais caro, mas não justificou esse aumento – continua
lotando, continua matando os passageiros (como no Rio), continua atrasando.
Como os ônibus, os imóveis também ficaram mais caros e não melhoraram. A saúde
ficou mais cara e não melhorou. A educação ficou mais cara e não melhorou. Os
preços dos ingressos de estádios de futebol encareceram e não melhoraram. A telefonia
encareceu e até melhorou, mas funciona muito abaixo do que deveria.
Diante de tudo isso, a chegada de
uma Copa das Confederações amplifica a indignação. Os estádios são caríssimos,
pagos pelo Estado, e os hospitais, pagos pelo Estado, matam gente por falta de
atendimento. O torcedor é convidado a fazer festa, mas não pode beber, gritar
nem levar instrumentos musicais. A sociedade é democrática mas o governo impõe
padrões de comportamento, padrões Fifa, que são alienígenas à nossa cultura. E
isso em um evento que é feito para celebrar o Brasil. Para mostrar notoriedade.
Para mostrar quão interessante é o nosso país para o mundo.
A indignação está bem longe de ser
sobre o aumento da passagem de ônibus em São Paulo. Em Porto Alegre a passagem
não aumentou e milhares foram à rua na mesma quinta-feira. Em Fortaleza, 6 mil
saíram para criticar o governador. No Rio de Janeiro, milhares foram protestar
contra os ônibus – lá, teve gente MORTA por ônibus este ano e não houve
repressão policial. Há também relatos de atos em Goiânia e Maceió, só nessa
quinta-feira.
Os manifestantes do Gezi Park, em
Istambul, começaram seu ato indignados pelo fim da área verde para a construção
de um shopping. Terminaram protestando contra tudo.
O que essa juventude toda que foi à
rua realmente quer é mostrar que o espaço público é como um time de futebol:
grande por sua gente. Se São Paulo é a locomotiva do Brasil, foi porque as
pessoas fizeram assim. Se o Brasil é referência para o mundo, foi porque o povo
trabalhador brasileiro, da jornada de 44 horas, do transporte público
deficiente, da educação capenga, passa por cima de todas as dificuldades para
produzir diariamente.
O resgate do espaço público é o
resgate de uma consciência coletiva de que é o povo que faz o país, e não o
país que amestra o povo.
Diante dessa visão, fica clara a
enorme dificuldade de diálogo com esse povo. E essa dificuldade de diálogo é
exatamente o que motiva protestos ainda mais fortes.
O belicismo dos editoriais de Folha
e Estadão conversa com o assinante conservador que sustenta sua folha de
pagamento, mas não conversa com a reputação atingida por esses veículos na
sociedade brasileira. O que conversa com a imagem desses veículos é a repórter,
que vai ao local para dar a importância que o protesto merece.
Da mesma forma, a postura legalista
de Alckmin, Haddad e José Eduardo Cardozo dialoga com as bases, as militâncias,
mas não com os eleitores. Quando Alckmin pede energia para combater o
vandalismo e diz que baderneiros devem ser reprimidos, ele claramente não
percebe o que está acontecendo na sua cidade desde o início. Quando Haddad não
acha relevante voltar para as ruas e conversar com os milhares que querem passe
livre, ele minimiza a força das ruas em prol da tênue legitimidade do voto.
Quando José Eduardo Cardozo diz que pode mandar a Polícia Federal e a Força
Nacional para ajudar na repressão, ele conversa com o Jarbas Passarinho que
assinou o AI-5: manda às favas seus escrúpulos de consciência em prol de um
discurso oficialesco e que já sai da boca mumificado.
E quando a presidente Dilma
Rousseff se manifesta sobre a inflação e não sobre as ruas, ela não conversa
com Estela, Luísa, Maria Lúcia, Marina, Patrícia e Wanda, que deixaram a
oposição consentida para lutar pela VAR-Palmares na ditadura.
A genialidade histórica desses
protestos é que, embora eles tenham sido motivados por pessoas à esquerda do
governo, nenhum deles carrega seus vícios. O PT catapultou o Fora Collor em
1992, mas não encheu o saco dos caras pintadas com discursos fechados sobre
arrocho salarial. Muitos dos que estavam vestidos de preto em 1992 nem sabiam o
que era arrocho salarial – eu era um deles, tinha 7 anos, e aos 28 ainda tenho
que procurar no Google. Isso está longe de ser um protesto “não-político”; é
apenas um ato que, por seu momento, consegue ultrapassar a politicagem.
Aqueles que vão para a frente do
computador defender a repressão e carimbar, com seu carimbo interminável de
rótulos, os manifestantes, não merecem preocupação: estão apenas perdendo o
trem da história.
Luís Felipe
dos Santos (publicado em algum lugar da internet)
Fernandinha Young
Eu
gosto de carinho violento. De falar. De estar certa.
De
quem entende o que eu digo. De quem escuta o que eu penso.
Da
minha prole. Dos meus discos. Dos meus livros.
Dos
meus cachorros. Dos Stones. Do Rock Natural.
Da
minha solidãozinha. Dos meus blues. Do meu sofá vermelho.
Da
minha casa. Do meu umbigo. De unhas cor de carmim.
De
homem que sabe ser homem.
De
noites em claro e dias em branco. De chuva e de sol.
Eu
guardo as minhas rejeições em vidrinhos rotulados com o nome deles.
Eu
sou mole demais por dentro pra deixar todo mundo ver.
Eu
deixo pra quem eu acho que pode comigo.
Ninguém
sabe.
Mas
eu tenho coração de moça.
Fernanda
Young
É isso!
Já tem um bom tempo que as mulheres estão dizendo não para o
PhotoShop. Muitos fotógrafos também estão valorizando a beleza natural em
ensaios sem nenhum tipo de manipulação.
13/06/2013
12/06/2013
A caminho de casa
A Caminho de Casa (2007) conta a odisséia de um
operário que decide levar o corpo de um amigo para o vilarejo onde vive a
família do falecido, para que ele seja enterrado em sua terra natal.
Neste road movie,
o personagem principal se vê obrigado a embarcar numa viagem pelo interior da
China cruzando muitos e muitos quilômetros, com o corpo do amigo a tiracolo.
Várias situações vão surgindo diante dele e transformando o seu modo de ver o
mundo. O resultado é uma emocionante história sobre amizade, lealdade e
tradições.
Apesar da temática se apresentar um tanto dramática e
macabra, o que se revela diante dos olhos é um filme cheio de ternura e muito
bom humor com situações que envolvem a morte. Não tem desgraça que não vire
piada - um jeito de fazer assuntos pesados ficarem mais amenos. A Caminho de
Casa privilegia principalmente os detalhes, exatamente porque é isso que sobra
no caminho da vida: lembranças, reminiscências e o riso.
O título original da obra, Luo ye gui gen, é um
provérbio chinês que significa “a folha que cai, retorna às suas raízes”. E
resume o espírito do filme, bem como simboliza o desejo de que a história da
nossa vida seja eterna.
11/06/2013
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