No dia em que
completaria 40 anos Condessa acordou mais cedo que o normal, remexeu as pernas
na cama vazia empurrando o lençol para longe e, pela primeira vez em muitos
anos, não sentiu falta de outras pernas onde se enroscar.
Tateou o
travesseiro ao seu lado e demorou a abrir os olhos pensando que seria nesse dia
que daria o salto planejado há muito tempo. A sensação de liberdade, a vontade
de viver a vida como sempre sonhara, a descoberta da sua verdadeira identidade,
todas as possibilidades estavam ali nas suas mãos e ela sentia que havia
chegado a hora.
Durante o banho,
hábito matinal, pensou no sonho recorrente que tinha com a avó materna, no que
combinaram sobre os amores frustrados, as promessas que fizeram sobre amar
intensamente, sobre a vida ... e seus olhos arderam de saudade.
A vida lhe tinha
sido muito boa, mas faltava tempero, os filhos crescidos, a recente descoberta
de prazeres há muito desejados, a maciez da pele, boca, dedos, sexo quente, um
amor de contos de fadas, gargalhadas, cumplicidade. Era chegada a hora.
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