28/01/2013

Condessa





No dia em que completaria 40 anos Condessa acordou mais cedo que o normal, remexeu as pernas na cama vazia empurrando o lençol para longe e, pela primeira vez em muitos anos, não sentiu falta de outras pernas onde se enroscar.

Tateou o travesseiro ao seu lado e demorou a abrir os olhos pensando que seria nesse dia que daria o salto planejado há muito tempo. A sensação de liberdade, a vontade de viver a vida como sempre sonhara, a descoberta da sua verdadeira identidade, todas as possibilidades estavam ali nas suas mãos e ela sentia que havia chegado a hora.

Durante o banho, hábito matinal, pensou no sonho recorrente que tinha com a avó materna, no que combinaram sobre os amores frustrados, as promessas que fizeram sobre amar intensamente, sobre a vida ... e seus olhos arderam de saudade.

A vida lhe tinha sido muito boa, mas faltava tempero, os filhos crescidos, a recente descoberta de prazeres há muito desejados, a maciez da pele, boca, dedos, sexo quente, um amor de contos de fadas, gargalhadas, cumplicidade. Era chegada a hora.


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