21/02/2013

A iconografia e a verdade



A iconografia totalitária e cafona do petismo 
nos seus 10 anos de mistificação
 Por Reinaldo Azevedo

Vejam esta imagem:


Prestem atenção aos detalhes. Ainda voltaremos a ela. Antes, algumas considerações prévias. O PT começa a distribuir nesta quarta-feira a seus militantes um livrinho de 15 páginas com as conquistas ditas “gloriosas” do partido nestes 10 anos. O padrão de comparação é o governo FHC. Os petistas, claro!, dizem que tudo, sob a sua gestão, foi melhor. Na verdade, passam a impressão de que o Brasil foi criado há dez anos. No princípio, era o caos, depois veio Lula — e só então a luz… Aí se criaram o céu, a terra, o mar, os passarinhos e Dilma Rousseff. Sobre mensaleiros, aloprados e peculatários, nada! Compreensível. Sabem como é… Até no mundo criado por Deus, o rival menor de Lula, existem ratos, sapos e baratas, mas que têm o seu lugar na ordem das coisas…
O PT vai se aproveitar, como é próprio aos de sua estirpe e àqueles que comungam de seu pensamento, para elencar algumas verdades que remetem a mentiras monumentais. Mas também há mentiras monumentais em si mesmas, como esta:
Enquanto o salário médio dos trabalhadores caiu, aumentou a derrama contínua de recursos públicos para os segmentos mais ricos e enriquecidos por uma dívida em expansão e por taxas reais de juros incomparáveis internacionalmente”.
Houve uma forte recuperação do valor real do salário mínimo no governo FHC, e o rendimento médio do trabalhador, com o fim da inflação, subiu em vez de cair. De fato, o Brasil pagou “juros incomparáveis internacionalmente” durante a gestão tucana, mas também durante a gestão petista. Nos oito anos de governo Lula, o país teve a maior taxa de juros reais do mundo — e é uma das maiores ainda hoje. Foi Lula mesmo quem lembrou que os bancos, por exemplo, nunca ganharam tanto como em sua gestão. Estava falando a verdade nesse caso.
Já expliquei o que existe de picaretagem essencial nesse tipo de abordagem. Lula chegou ao governo com o setor financeiro saneado, sem risco de quebradeira dos bancos (essencial para enfrentar a grande crise), com a inflação domesticada e com algumas reformas feitas, que devolveram o Brasil ao mercado. Sem os investimentos em telefonia, por exemplo — que chegaram por causa da privatização —, teríamos ido à breca. O PT era contra. Como era contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Teremos muitas outras oportunidades de voltar a essas mistificações. Meu ponto agora é outro.
Volto à imagem lá do alto. É a capa do tal livrinho que será distribuído aos petistas. Essa estética cafona e autoritária tem história. Já foi empregada no Brasil durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, o ditador protofascista que caiu nas graças dos intelectuais de esquerda — o que é compreensível. O fascismo, no fim das contas, é de esquerda mesmo, já demonstrei aqui algumas vezes.



Mas foram os comunistas que elevaram esse tipo de mistificação à condição de uma estética. Conscientemente ou não, quem trabalhou a foto de Lula, agora só de bigode, o deixou muito próximo daquele bom Stalin, o que matava 40 milhões com ar de quem oferecia pirulitos às crianças. Lula, que eu saiba, não matou ninguém, a não ser a verdade.


Foram os anos da Revolução Cultural na China, cuja fase mais aguda e violenta se deu entre 1966 e 1969, que inundaram o mundo com essa estética asquerosa, do “bom líder” que esmaga o seu povo. Coincidiu com um momento de efervescência da cultura pop e atraiu intelectuais do miolo mole mundo afora.
Notem que, invariavelmente, os bons ditadores tem seus olhos postos no futuro, num horizonte que só eles divisam. E assim é, entre outros motivos, porque se elevam muito acima do povo, que eles conduzem. Afinal, um eram chamados “führer” (Hitler), “duce” (Mussolini), “O Grande Timoneiro” (Mao); “O Guia Genial dos Povos” (Stalin) e “O Grande Líder” (Kim il Sung). O Brasil teve “O Pai dos Pobres” (Getúlio), o “Grande Companheiro” (Lula) e agora a “Mãe dos Pobres” (Dilma).



Em qualquer dos casos, o povo é reduzido à minoridade. Não está à altura daqueles que o conduzem com olhos visionários. Seu papel é erguer as mãos para o alto e sorrir de satisfação.
A iconografia apenas reproduz o pensamento detestável de todos eles.
Voltem lá ao alto e fixem de novo a imagem de Lula. Agora vejam esta imagem famosa de Stalin, que era objeto de culto.



Quem trabalhou a imagem do Apedeuta tentou forçar a semelhança? Nessas coisas, pouco importa a intenção. O que importa é a filiação das ideias, ainda que, às vezes, involuntária. De toda sorte, autoritarismo no PT é sempre voluntário. Pode até acontecer de eles apostarem na democracia, mas ou será sem querer ou será por motivos puramente táticos. O livrinho do partido, diga-se, nada mais é do que uma adulteração da história, dos fatos. O carniceiro da foto acima, vocês devem saber, mandava mudar até as fotografias. À medida que ele ia matando às pessoas, dava ordem para que os homens do regime as apagassem também da história. O PT é um exímio assassino e ressuscitador de reputações.

 Por Reinaldo Azevedo


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