PATRÍCIA CAMPOS MELLO – Folha de
São Paulo
Nada de estádios grandiosos ou
aeroportos. O grande programa de infraestrutura da Índia tem como objetivo
construir 15 milhões de privadas por ano.
Na Índia, mais
de 60% da população não tem privada. São mais de 600 milhões de pessoas que
fazem suas necessidades ao ar livre, no mato, ou, quando moram em cidades, usam
um cubículo na casa --limpo manualmente por pessoas de castas inferiores.
"Nosso
maior desafio é tornar a Índia livre de defecação ao ar livre ", disse à
Folha Jairam Ramesh, ministro do Desenvolvimento Rural da Índia. "Nossa
meta é conseguir eliminar o problema em dez anos", acrescentou.
Para isso, o
governo está gastando US$ 1 bilhão por ano para construir privadas e rede de
esgotos e também dá US$ 200 às famílias pobres que queiram construir
instalações sanitárias em suas casas.
Cerca de 400
mil crianças indianas morrem todos os anos de diarreia, consequência de falta
de higiene e de esgoto. A falta de privadas é ainda questão de segurança:
muitas mulheres são atacadas enquanto fazem suas necessidades no mato.
"Há muito
mais conscientização hoje em dia. As mulheres não aceitam mais se casar quando
a casa de seus sogros (onde a maioria vai morar) não tem privada", afirma
o ministro.
As privadas
nas casas pobres são diferentes das ocidentais --são um buraco no chão de
louça, ligado ao encanamento, e não se usa papel higiênico, apenas água.
Com a
"ofensiva das privadas", o governo quer também acabar com os chamados
"manual scavengers" --indivíduos de castas mais baixas que, há
séculos, se dedicam à tarefa insalubre de limpar, com uma escova, os
excrementos das pessoas que não têm privada, coletar em carrinhos e jogar em
lugares afastados dos vilarejos.
Em troca,
recebem menos de um dólar ou um prato de comida. "Há mais templos neste
país do que privadas", chegou a dizer Ramesh.
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