Sociedade está saturada, analisa sociólogo francês
Michel Maffesoli
A sociedade atual está saturada, o que
significa que está em processo de desestruturação e de reestruturação. Ao mesmo
tempo, todo o pensamento sobre o social e o cultural está saturado, até mesmo
no sentido vulgar da palavra, com velhas fórmulas e ideias feitas.
Essa avaliação é feita pelo sociólogo
francês Michel Maffesoli no livro ´Saturação`. Ele
é considerado um dos fundadores da sociologia do cotidiano e conhecido por suas
análises sobre a pós-modernidade, o imaginário e, sobretudo, pela popularização
do conceito de tribo urbana.
Na obra, o intelectual descreve como o
novo formato da sociedade moderna está possibilitando às pessoas um outro
relacionamento com a vida e o mundo, considerado mais estimulante e mais apto a
fazer da existência uma obra de arte.
O autor denuncia os conformismos do
pensamento sociológico, das fórmulas politicamente corretas que repetem como
papagaios opiniões velhas de 200 anos ou mais, observa o escritor Teixeira
Coelho em texto de apresentação do livro.
·
Não é
necessário ser fanático por essas novas tecnologias interativas para
compreender a importância daquilo que se combinou chamar, justamente, de
"sites comunitários". Myspace e Facebook permitem aos internautas
tecer vínculos, trocar ideias e sentimentos, paixões, emoções e fantasias. Da
mesma forma, o YouTube favorece a circulação da música e de outras criações
artísticas. E, bem recentemente, o Lively tenta "agrupar a vida
on-line" de seus usuários.
A
expressão-chave que se declina a mais não poder é a de "vida
comunitária". E é nisso que se vê que o medo do comunitarismo é bem o
fantasma de outra época e está totalmente defasado em relação ao mundo real
daqueles que formam a sociedade já, hoje, e com certeza amanhã.
De fato,
graças à Internet, instala-se uma nova ordem de comunicação. Que favorece os
encontros, o fenômeno dos flashmobs
são testemunhas disso; em que, em relação a coisas fúteis, sérias ou políticas,
mobilizações formam-se e se desfazem no espaço urbano e virtual. O mesmo
acontece com o streetbooming, que
permite que, nas grandes megalópoles contemporâneas, nessas selvas de concreto
que favorecem o isolamento, ao se conectar à Internet as pessoas se encontrem,
conversem, conheçam-se, criando assim uma nova maneira de estar junto, fundada
na experiência comum da criatividade.
Tais redes
sociais on-line, bem como os fenômenos de encontros que elas induzem, deveriam
chamar nossa atenção para uma socialidade específica onde o prazer lúdico
substitui a mera funcionalidade. Aliás, é interessante notar que cada vez mais
se utiliza o termo "iniciados" para caracterizar os protagonistas
desses sites de encontros.
Iniciação a
novas formas de generosidade, solidariedades com letra minúscula que não têm
mais nada que ver com o Estado providencial e sua visão dominante. Se, como
indica Hélène Strohl, "O Estado social não funciona mais" (Albin
Michel, 2008), é porque é na base, no quadro comunitário e graças às técnicas
interativas, que se difunde a solidariedade sob todas as formas. Curioso
retorno a uma ordem simbólica que se pensava superada.
A FOLHA DE SÃO
PAULO - 16/04/2011
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