22/11/2012

Blade Runner



Alienação no Cotidiano Fragmentado


                                                                      Cena de Blade Runner, de Ridley Scott

Cheiro da flor Dama da Noite essência artificial e falsa num fragmento do tempo que corrói o espaço mais recôndito do cérebro humano. Foto em preto e branco de um belo garoto posando com um diploma do quarto ano primário ao lado de um esguio vaso ornamental num cenário fotográfico a lembrar os duros anos sessenta do século XX no Brasil. Uma agenda: brazil poetic portraits. Lápis, Caneta, CD-ROM, Palavras e Sinais; Ceticismo Epistemológico, Ironia Complacente. Telefone, A personel computer. James Joyce. “Ouço a ruína de todo o espaço, de vidro quebrado e de paredes que caem, e o tempo, uma lívida flama final”. Um espaço e um tempo fugidios do domínio da consciência: um escritório ou uma vida na noite erma. 2 horas e 16 minutos do dia 22 de novembro do décimo segundo ano do século XXI. Virtualidade concreta de Blade Runner.
No filme Blade Runner (1982) dirigido por Ridley Scott é imageticamente denso o início da película num cenário futurista da Los Angeles no ano 2019, tendo ao fundo, como uma personagem fundamental, a trilha sonora de Vangelis. Apesar do impacto emocional causado por esse início cinematográfico que arrebata um ser humano sensível, chama a atenção outra personagem igualmente intensa da obra: o modo de vida ali produzido pelo diretor. Há transeuntes aparentemente ausentes do que se passa a sua volta, trajando figurinos ecléticos ou sincréticos, mas que indicam uma unidade de grupos, podendo-se até inferir que são membros de tribos urbanas diferenciadas. Trata-se de uma cidade noturna, preta, repleta de diferentes luzes néons e chuva intensa, induzindo-nos a muitos significados e signos, que nos atrapalham a compreensão da organização urbana e social e os processos de reprodução social naquele momento histórico produzido pela ficção. Ficamos estáticos diante de tanta heterogeneidade, fragmentação e uma beleza artificial perfeita, provavelmente o que nos impede alcançar a compreensão imediata dos fenômenos que vemos, por meio do estabelecimento dos nexos existentes entre eles. Apenas admiramos perplexos a ausência aparente da dimensão humana, e, por conseguinte, da racionalidade dos processos de reprodução social.
Intrigados, passamos a observar o modus vivendi daqueles que ali parecem sobreviver. A construção que fazemos no âmbito de nossa consciência, que já sofreu o impacto do filme, resulta de nossa observação e percepção das cenas. Os nexos estabelecidos por esta via tornam-se construção mecânica limitada pela aparência e pelo imediato, pois, observamos os seres humanos tão somente no que fazem para conseguirem o que desejam para sobreviver naquele contexto, num presente eternizado. A cena é bela e aterradora, pois seres humanos como nós, ignoram os semelhantes à sua volta e parecem adaptados ao ambiente. Em meio à barbárie são individualistas e impassíveis diante do que se lhes apresenta. Procurando encontrar algum sentido no que nos choca e compreender esses seres e suas relações num nível mais profundo, verifica-se que os processos de reprodução social das formas de sobrevivência daqueles seres sociais são permeados quase que exclusivamente pela utilidade comezinha. O critério que orienta e preside suas práticas, no imediato, é a utilidade para sua sobrevivência. Num primeiro momento é difícil apreender o que, de maneira mediada, aspreside. 1982 ou 2012?
João dos Reis Silva Júnior - GEPEFH


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