10/11/2012

Desmatamento na Amazônia avança em unidades de conservação

Jornal O Estado de São Paulo - 10 de novembro de 2012



PARÁ - Imagens quadriculadas e recortadas dos satélites mostram todo mês como está o desmatamento na Amazônia. Já há algum tempo alertam que, apesar de em geral a taxa estar caindo, é nos lugares onde o desmate realmente não deveria existir - as unidades de conservação criadas para contê-lo - que o problema avança perigosamente. Mas somente voando sob as nuvens é possível observar o tamanho do desafio de resolvê-lo.
Partindo de Itaituba, no oeste do Pará, sobrevoamos um mosaico de áreas protegidas criadas no entorno da BR-163 a fim de conter desmatamentos que a obra poderia causar. Ao entrarmos na Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, a primeira sensação é de alívio. Altamente preservada, faz pensar que teremos de voar muito até achar o problema. Não demora nem cinco minutos. Veios de terra vermelha cortam o verde escuro da floresta. São estradas em operação para todo lado, limpas, abertas para a retirada ilegal de madeira.
Na sequência voamos sobre a Flona Altamira, onde o cenário muda um pouco. Pelos locais onde passamos, a degradação surge em maiores proporções. Grandes áreas onde, depois do corte seletivo de madeira, foi ateado fogo para o início do processo de limpeza que, em mais algum tempo, pode preparar o terreno para a instalação de um pasto.
Estamos a bordo do monomotor de Prefixo PAZ do Greenpeace, onde analistas da ONG tentam identificar visualmente e mapear desmates antes mesmo dos satélites - que não raramente são prejudicados pela presença de nuvens sobre a floresta tropical. O que eles observam é imediatamente georreferenciado e depois cruzado com informações prévias para checar se é algo novo ou não. No dia do nosso voo, no fim de outubro, vimos algo que parecia recente. Um mosaico de áreas desmatadas que, somadas, chegariam a cerca de 1 mil hectares, segundo a análise da ONG. Mais à frente vemos outro mosaico com corte raso e degradação ainda maior, de cerca de 3 mil hectares, já detectado pelo Deter, o sistema de monitoramento contínuo via satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
"Coincidentemente, ele fica perto de três fazendas", ironiza Márcio Astrini, coordenador da Campanha Amazônia do Greenpeace. "Esse desmatamento está na borda de dentro da unidade de conservação. Se o governo quiser diminui-la, já seria um bom lugar para passar o novo risco." A denúncia desses novos desmates deve ser entregue nesta semana pela ONG ao Ministério Público Federal.

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