No
Brasil, o lixo da política normalmente é reciclado pelo esquecimento. Os
prestigiados de hoje eram os poderosos de ontem. E não precisam adaptar nada
para continuar dando as cartas. Basta que acomodem seus interesses ocultos
atrás da boa estampa de um gestor ‘novo’. Fernando
Haddad, por exemplo, empresta sua aparência de garotão ao velho e bom Paulo Maluf.
Pisando nos seus princípios distraído, Haddad negocia a
entrega de uma secretaria da prefeitura petista de São Paulo ao PP de Maluf. De
repente, chega da ilha de Jersey, paraíso fiscal britânico, a notícia de que o
neo-aliado foi condenado a devolver o dinheiro que desviou do
município. Coisa de US$ 22 milhões. Com juros, US$ 32 milhões. Em moeda
nacional: R$ 66,2 milhões.
Supremo paradoxo: enquanto analisa como vai pagar a Maluf
a fatura do apoio emprestado na campanha, Haddad precisa agora planejar a
repatriação do dinheiro desviado por ele e já bloqueado em Jersey. De resto,
tem de programar a estratégia para tirar do aliado um pedaço de patrimônio
suficiente para cobrir os juros da cifra malversada.
O eleitor que assistiu Haddad na propaganda da tevê, com
sua cara limpinha, suas boas intenções e seu verniz da USP estão se perguntando
agora se o que assistiram não era apenas mais um exemplo de professor distraído
sendo explorado pelo esquema de sempre. O ‘novo’ ainda nem tomou posse e já se
consolida a percepção de que esta será uma prefeitura dos espertos. A boa
estampa e o ego de Haddad apenas ajudarão a manter a ilusão de que é ele quem
manda.
Ao posar junto com Haddad naquelas célebres fotos ao lado
de Maluf, Lula imaginou que o benefício compensaria o custo. Pensou que
sucederia o que sempre ocorre no Brasil. Um país onde as contradições e as
calhordices políticas são mais ou menos como os cachorros que correm atrás dos
carros. Perseguem quem as praticou por algum tempo. Passam a impressão de que
vão trucidá-los. Mas logo desistem. Desgraçadamente, a sentença de Jersey
prolongou os latidos.
A um mês e meio da posse, o ‘novo’ de São Paulo já se
revelou uma coisa muito antiga. A condenação de Maluf deu à novidade a
aparência de pão dormido. Considerando-se a plataforma da campanha de Haddad,
pode-se dizer que nunca antes na história desse país alguém iniciou uma
administração tão mal tão bem.
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